Conselhos

Protegidas por uma capa de couro preto estão páginas e mais páginas, amarelas e finas. Ao abrir, o caderno liberta um cheiro doce que te relaxa inevitavelmente.
As páginas estão em branco, e há por perto um carvão forte, que mancha.
Preenche-o. Coloca lá tudo o que sabes, tudo o que a experiência te ensinou, tudo o que o teu coração acha merecedor de partilhar. E guarda contigo, e só contigo, a certeza de que quando alguém o abrir, mais uma página será preenchida, mais uma vida...

Eu acredito que tudo acontece por uma razão. E que há uma lição a aprender em tudo o que acontece... Simplesmente, muitas das vezes, a lição não é para os participantes directamente envolvidos.
E curiosamente isso tem acontecido com uma frequência alucinante na minha vida... Ou isso, ou não consegui aprender nada das tantas e caricatas situações, mas porra!
A minha mãe costuma dizer que é uma espécie de maturidade mental, eu chamo-lhe antes arrogância de (sobre)vivência...
HÁ DEZ ANOS:
#Estava na idade dos porquês;
#Os meus pais divorciaram-se;
#Basicamente não fazia nada da vidinha.

HÁ CINCO ANOS:
#Era gorda que nem um pote (entre as refeições comia meio mundo);
#Só estava bem dentro de água, o que me levou a fazer natação de competição;
#Levava almoço de casa e roubavam-me o lanche.

HÁ DOIS ANOS:
#Terminei uma das relações mais importantes da minha vida;
#Cresçi imenso, física e mentalmente;
#Conheci algumas das pessoas que nunca ei de largar.

HÁ UM ANO:
#Mudei completamente o rumo da minha vida, tanto profissional como pessoalmente;
#Dei um salto gigante em termos de liberdade;
#Passei a ter passe e apaixonei-me pela minha queridíssima Lisboa.

ONTEM:
#Estive ao telefone até às 3h da manhã;
#Descobri que me apetece imenso aprender a tocar harmónica;
#Comecei a escrever as cartas que vou publicar a seguir.

HOJE:
#Fui ao dentista;
#Tive um momento profundo com o meu gato, o Tobias;
#Tirei o dia para ouvir todas a músicas que mais gosto.

AMANHÃ EU VOU:
#Dormir até tarde;
#Sair com a minha melhor amiga;
#Rir à gargalhada.

CINCO COISAS SEM AS QUAIS NÃO POSSO VIVER:
#Música;
#Máquina fotográfica;
#Palavras;
#Abraços;
#Pessoas.

CINCO COISAS QUE EU COMPRARIA COM 1000€:
#Material fotográfico (objectiva, tripé, flash se alguém quiser oferecer);
#Material de mergulho;
#Harmónica;
#Colecção de policiais do Sherlock Holmes e do Àrsene Lupin;
#E exagerando um bocadinho, um estúdio decorado com luz natural e com bom ambiente para passar a tarde, sozinha ou acompanhada.

CINCO MAUS HÁBITOS:
#Brutalidade e sinceridade a mais;
#Comer antes de ir dormir;
#Meias conversas;
#Prometer coisas sem cumprir;
#Gabar-me.

CINCO SÉRIES DE TV:
#Não tenho hábito de ver nenhuma em especial.

TRÊS COISAS QUE ME ASSUSTAM:
#Gritos;
#Trovoada;
#Pés.

TRÊS COISAS QUE TENHO VESTIDAS NESTE MOMENTO:
#T-shirt de um amigo;
#Meias pretas;
#Calções.

QUATRO DAS MINHAS BANDAS FAVORITAS:
#SOJA;
#OASIS;
#FLORENCE AND THE MACHINE;
#YANN TIERSEN (não é uma banda, mas eu amo por isso também conta).

TRÊS COISAS QUE EU REALMENTE QUERO AGORA:
#Liberdade;
#Amor correspondido.
#Aprender.

TRÊS LUGARES ONDE QUERO IR DE FÉRIAS:
#Singapura;
#Guatemala;
#Inglaterra.
Cansei-me de decidir, de escolher, de obrigar.
Agora só imagino, só vejo, só vivo...
Mandar não podia, proibir era escusado, e de qualquer das maneiras não fazia o que queria... Então porquê preocupar-me tanto?
Quando tiver de ser, hás-de cá vir... Porque a única coisa que ainda não sabes é que tenho razão.
LAMENTAMOS!

Dizem que tem de haver dias assim, enfim... Mentes fechadas,de olhos e ouvidos tapados, e corpos vazios sem vida, sem alma, incapazes de perceber que não existe tal coisa como o destino ou a sina!
Eu faço a minha vida, fabrico os meus dias e os meus sonhos, e raramente me pergunto o que foi que aconteceu.
Há que ganhar consciência de que todos somos reis da selva, todos mudamos constantemente um pouco do mundo. E tantas vezes involuntariamente...
Novas ideias, movimentos, sons
Tonalidades de cores.
Novos nomes, terras,
Correntes de pensamento, pessoas,
Olhares e musicalidades.
Má sorte! Quem me dera parar.
Matar o pensar,
Quebrar as teorias da rotina....
E MUDAR!

Tento demasiado.
Há coisas que nunca mudam, é certo. Mas compreendendo as memórias como portais para outros tempos, elas não podem ser imutáveis. São parte de mim e mudam conforme os meus olhos mudam...
À medida que o tempo passa, guardo mais para mim, partilho menos com o mundo. E aparentemente sofro menos, choro menos...
Porquê? Porque sinto menos, acredito menos e vivo menos.

E acredito piamente que serão atitudes como essa que acabarão por matar-me no final...

Não compreendo porque razão te anulas tanto. Mudas tão drasticamente, ficas rígido, frio... Tu simplesmente fechas os olhos e desacreditas a tua capacidade de amar. Fazes por não sentir, foges de quem és... E eu fico assim, tão quieta, a olhar-te como se acreditasse que podia mudar-te.
E relembro os fragmentos de memórias passadas nas quais ainda és humano, nas quais não passamos de mais dois...
Tento obrigar-te a encarar-me, quero falar-te ao ouvido, mas tu não ouves... Não queres ouvir...
Agora também não quero sentir, não posso ver e não vou ouvir. Perdi a capacidade de pensar durante as tentativas de te fazer feliz. Agora sou só eu, vazia, tão quieta, a olhar-te como se acreditasse que podias mudar-me!
Quando era pequena queria casar-me contigo, eras uma espécie de heroi para mim... Dava-te a mão e picava-me na tua barba rija ao encostar-me a ti, adormecia na tua cama à espera que me levasses ao colo para a minha, sorria-te o tempo todo e arranjava mil e uma macacadas para te chamar a atenção. Podia passar dias a gabar-me de ti!
Mas fui obrigada a separar-me de ti por razões de força maior e com o tempo foste perdendo as forças... Até que no dia do teu casamento o elo que nos unia se separou por completo. Abris-te mão de mim...
Passei a ver-te duas vezes por mês e de cada vez que te via, aos meu olhos, a nossa relação deteriorava-se porque tu pioravas.
Hoje ganhaste por fim todo o meu desprezo. Parabéns, há muito que tentavas!
Tentei sempre proteger as boas memórias que tinha de ti, mas já que fazes questão de destruí-las uma por uma, uma por uma também vou libertar-me das correntes que colocaste à nossa volta para me afundar contigo.
E quando acabar dar-te-ei um grito para reanimar esse coração que há muito deixou de bater. Não para que me voltes a amar, mas para que sofras a perda dos teus filhos!
Apercebe-te, de uma vez por todas, que já não somos família e que o meu amor não é incondicional! Não podes obrigar-me a amar-te e por isso a nossa história termina aqui.
Libertei-me de ti e do sentimento vazio que me impunhas, ACABOU!
Como foste capaz de me deixar sozinha contra o mundo? Tantas vezes me falhaste, me viraste as costas, me deixaste para trás... Tantas vezes me fizeste chorar...
Como foi que te transformaste tanto e em tão pouco? Sim, hoje não vales nada e devias ter vergonha disso.
Mas agora é tarde... Já não és pai!